Wednesday, December 3, 2014

O que eu quero da vida?

E aqui vai o último texto desse blog*.
Esse texto representa o fim de um ciclo e o começo de uma nova fase. Não moro mais em Boston, o doutorado faz parte do passado. Se o doutorado foi um período cheio de turbulências, agora quero caminhar com mais tranquilidade. Esse texto organiza alguns pensamentos e porque sempre fui muito confuso sobre o que quero da vida. Assim se despede Um tonhão em Boston.

Por muito tempo eu me faço a pergunta : O que eu quero da vida?
Hoje eu sei a resposta,  descobri o que eu quero da vida.


Eu quero viver a vida ao máximo. Eu quero viajar, conhecer gente nova. Eu quero ser recepcionado por pessoas queridas a cada canto do mundo. Eu quero estar sempre em contato com a natureza.


Eu quero enfrentar desafios. Eu quero manter meu coração genuíno e palpitante, mesmo que o ambiente tente definir como eu devo pensar ou sentir. Eu quero minha mente sempre pensante e criativa, e que meu potencial seja tão óbvio que eu não precise provar nada a ninguém.


Eu quero uma musa que faça meu coração bater mais forte. Sem o compromisso de ter compromisso, mas que o nosso corpo e mente sintam uma falta crescente um do outro e o compromisso seja natural. Alguém que não seja só atraente, mas também uma boa companhia. Alguém que deixa a vida melhor só por estar perto. Alguém com energia positiva que me faça lembrar que a vida é simples, mas nós complicamos ela.

Eu quero que as decepções do dia a dia não retirem o sonho dos meus ideais, apenas me ensinem a ser mais seletivo ou rigoroso quando necessário. Eu quero meus ideais coerentes com a realidade.

Eu não quero entrar no sistema porque é o caminho óbvio ou mais fácil, mas não quero ter medo de me comprometer só pra insistir em um caminho diferente. A vida exige compromisso. Eu quero ter sabedoria e coragem para tomar as decisões certas.


Eu quero que as exigências da minha profissão e o desafio do mundo não tire do meu coração o meu lado mais humano. Essa é a promessa que uma versão jovem de mim fez no começo de sua caminhada. Que a tirania dos donos do poder não tirem a minha vontade de pensar sobre o mundo. Que o preconceito alheio não me contamine, me iniba, ou me faça deixar de gostar das pessoas ao meu redor.

Eu quero ensinar e quero aprender constantemente. Na posição de tutor, quero compartilhar o que aprendi de mais interessante e o que foi importante pra superar desafios. Eu quero ajudar um aprendiz a descobrir seu próprio caminho e seus anseios e não direcioná-lo no caminho que escolhi ou de acordo com meus benefícios. Cada um tem seu próprio caminho. Eu não quero esquecer que o aprendiz também ensina.

Eu quero ser competitivo quando necessário, cooperativo quando possível e criativo quando insatisfeito. O foco na competição distrai as pessoas de curtirem o dia a dia. A cooperação estimula um espírito de comunidade e a criatividade cria oportunidades onde ninguém antes imaginou.

Eu quero brincar com as regras sociais. Não com desrespeito, mas pra quebrar a tensão de um sistema cheio de arbitrariedades ou denunciar suas caricaturas. Há várias maneiras de enxergar a realidade e devemos ser mais flexível sobre elas. Eu quero ser flexível com a realidade.

Eu quero valorizar a vida e as pessoas ao meu redor, independente do seu status. Eu quero estar sempre cercado de pessoas queridas. O prazer da vida é está cercado por pessoas queridas. A evolução da sociedade pode até selecionar o poder e o status, mas deixa um vazio naqueles que não valorizam a vida. 

Eu quero desafiar um líder se ele me parecer tirano, injusto, mas quero ser sábio para observar e entender suas posições. Na condição de líder, quero inspirar meus semelhantes, superar minhas limitações e reconhecer as habilidades do meu grupo. Eu gostaria que a liderança viesse de forma natural onde eu faça parte e me preocupe com o grupo.

Eu não quero ter medo de errar, mas não quero errar só pra enfrentar o medo.

Eu gosto de fazer pesquisa e aprender, mas ser cientista é só uma fração da minha vida. "Você trocaria o Doutorado nos EUA para virar policial?". A minha resposta é: "Ambas oportunidades são excelentes e permitem explorar uma parte diferente de mim mesmo. Porém, de forma alguma eu escolheria algo diferente de biologia como primeiro curso de graduação. A experiência de estudar Biologia na UnB foi única e explorou o melhor que existe de mim. Pessoas unidas e diversidade de ideias como nunca vi." Existe um pouco de médico, louco, cientista, artista, filósofo, boêmio em cada um de nós. O caminho que escolhemos vai exaltando um deles e criando quem somos. 
 
A vida é uma ampulheta onde temos um tempo limitado para construir tudo que queremos. Mesmo se construirmos tudo que queremos temos que escolher que parte das nossas conquistas queremos usufruir. Tão importante quanto o aprendizado e oportunidades profissionais da minha caminhada é passar tempo ao lado das pessoas queridas, minha família, minhas raízes. Hoje percebo que é desafiante ter tudo ao mesmo tempo. Somos limitados, o ideal se torna mais distante. Eu sinto que em breve terei que decidir a melhor maneira de equilibrar as oportunidades profissionais com a minha família e raízes. 

Eu descobri o que eu quero da vida e porque sou tão confuso. Cada caminho que escolhemos nos permite explorar um lado dos nossos anseios. Aos 20 e poucos anos eu queria me aventurar e buscar tudo ao mesmo tempo. Queria ser desafiado de verdade e fui. Conheci pessoas que me fizeram pensar e pessoas que me fizeram senti. Conheci a mim mesmo. Participei de política, organizei eventos, perdi preconceitos, aprendi. Tive momentos de tristeza e de felicidades. Tenho o boteco no coração, apesar de uma maneira diferente do que era há alguns anos. Consegui muito do que quero, mas não tenho tudo ao mesmo tempo. Hoje fica mais claro que a vida é simples, mas caminhar pode ser complicado. O importante é seguir caminhando sem esquecer do equilíbrio. Eu descobri a resposta de toda minha confusão: eu tenho muitas vontades, mas não descobri um caminho que satisfaça todas elas. Talvez seja impossível satisfazer todas as nossas vontades, porque a gente percorre somente um caminho.


Agradecimentos

Como esse é o último texto, o fim do ciclo. Vale a pena terminar com um pequeno agradecimento.

Muito obrigado aos amigos, família, mentores e outras pessoas que fazem parte da minha caminhada e foram importantes no processo do meu doutorado. Posso dizer que não foi fácil

Tenho muito orgulho dos familiares e amigos que conheci quando morava em Brasília. Sempre soube da importância de vocês, mas fica cada vez mais óbvio. A família eu tive sorte deles serem incríveis. Os amigos eu tive sorte de ter conhecido-os e ter construído a amizade por anos. Vocês podem não saber, mas a carinho de Brasília sempre me serve de apoio!

Não posso esquecer as pessoas que conheci em Boston. Não são tantos como em Brasília, mas conheci pessoas incríveis que foram essenciais para o processo. Eu tenho muito que agradecê-los. Uma pena que muito deles eu não mantenho contato com tanta frequência quanto eu queria.

Se você leu esse texto até o fim, comente. A gente transforma os comentários em uma conversa e eu mato um pouco das saudades por aqui. Comente os outros textos!


15 comments:

antluiz said...

*Eu posso escrever "a trilha sonora de um doutorado" como último post. Os momentos marcantes da nossa vida são associados a músicas que estamos escutando. Cada ano do doutorado é bem distinto e eu posso explicar muito deles com algumas músicas.

A experiência chamada vida said...

Uau! Gostei... A vida parece tão confusa que ter certeza de algo é bobagem, se o coração está feliz a gente continua se não está a gente se reinventa. A cada reinvenção a gente descobre um novo "eu". Como aprendemos nisso tudo. Creio que fugir ao convencional, ao quadrado esperado nos leva a descobrir as possibilidades não pensadas e previstas, assim achamos o novo. Precisamos nos desafiar a trilhar caminhos novos sempre porque o mais do mesmo é tédio. Gosto de sentir que estou viva e não atuando no roteiro escrito por outros. Sempre descobrindo novos universos porque cada ser humano é um diferente. Good luck, unforgetable smile.

Unknown said...

A gente não se conheceu pessoalmente... eu sou aquela que te deu o bolo na hora que vc estava doando a impressora antes de sair de Boston, lembra? Mas eu li o seu texto até o fim, e talvez por querer tanto numa só vida, eu me identifiquei com ele. Queria ter várias vezes a oportunidade de encarnar (ou seja lá o nome que se dê a quem vive várias vezes, se é que isso é possível) e viver vidas diferentes. Mas, até onde sei, o meu tempo aqui é limitado e as minhas possibilidades dependem das minhas escolhas. Que possamos ter sabedoria e discernimento para optar pelos caminhos que nos levarão à nossa felicidade. Bjs, Carol.

Larissa Spinelli said...

Quando eu crescer eu também quero: (i) um doutorado; (ii) saber o que eu quero da vida.
Mas por hora fico feliz em saber que existe vida depois do doutorado (e que ela pode ser pulsante) e com as suas incertas certezas.
Fico na espera da trilha sonora. =)

Unknown said...

Tonhão! Pena que esse foi o último texto, foi o primeiro que li. Fico feliz em saber que eu não sou a única biológa perdida (:p), mas também fico feliz em saber que você está achando suas respostas. Eu hoje acredito que o tempo vai respondendo algumas coisas, e é aos poucos que a vida vai dando certo... a gente só não pode ficar parado! A gente pode não saber direito o que quer, mas eu tenho certeza do que não quero. Bjos e sucesso nos próximos passos, que vc encontre um feliz equilíbrio!

Unknown said...

Antonio, admiração e amizade são dois sentimentos meus por você. Fico feliz que sua jornada até aqui tenha permitido tantas descobertas e conquistas. Não posso te indicar nenhuma escolha, porque isso é só genuíno quando parte da gente mesmo - e porque você não aceitaria obviamente também, mas saiba que tenho aqui guardada comigo uma torcida silenciosa. Fico feliz e orgulhosa que meu caminho também tenha me permitido ter encontrado amigos tão queridos como você. Desejo sempre muito sucesso e recompensas para você. Um abração, Fernanda

Filipe said...

Antônio, é bom escrever né? Parece que a gente organiza a casa quando coloca pra fora, quando escuta a própria voz. Acho que sua inquietações são positivas, pois sempre te levam para lugares novos no mundo e mesmo dentro de você. Muitas das coisas que vc persegue, vc vai atingir e só perceber um bom tempo depois, quando você puder ver "the whole picture". Portanto, tenha paciência. "A vida é essa calçada estreita com um senhora reumática na nossa frente."

jufalqueto said...

"Eu quero ser competitivo quando necessário, cooperativo quando possível e criativo quando insatisfeito." Eu também!! :D

Adorei, Tonhão!
Quando vc foi, eu não queria que vc fosse. Entendia que era importante, mas no fundo queria que vc ficasse para ter mais sambas e cervejas com vc, mais conversas sobre um pouco de tudo. A gente sempre quer que pessoas queridas não saiam do nosso lado, né? Agora, eu vejo o quanto o doutorado e tudo o que veio com ele te deram novas perspectivas...
Talvez eu sinta um pouco disso também agora. Ainda não te contei, mas passei no doutorado.

Toda a boa sorte, Tonhão! Saudades de vc!

Bjs, Junia

Gus said...

Muito bom Tonhão!

Felicidades no seu caminho!

antluiz said...

Como posso responder os comentários de uma forma agradável para todo mundo?

Acho que sei! Vamos prum boteco? Ou prum Samba? Tá, meus amigos estão ficando velho...

Receber os comentários aqui é legal, mas nada se compara a uma conversa ao vivo.

Nayara, a vida sempre foi muito confusa para mim.

Carol: A gente nunca se conheceu ao vivo, mas se cruzamos em 3 vezes. Impressora, apresentação do Hernani para uma entrevista sua e agora! Pelo visto somos muitos que querem fazer muito da vida.

Larissa: O doutorado você consegue em breve. Saber o que fazer da vida eu não sei!

Gabi: Eu tenho vários escritos. Gosto muito de um que chama: "o vazio". Tenho vários rascunhos que não escrevi. Mas a vida vai seguindo e eles ficaram desatualizados com o que sinto agora.

Fernanda: Fernanda!!! Me sinto muito sortudo em ter te conhecido em uma viagem aleatória para um congresso no Brasil! E de repente você se torna uma pessoa super especial.

Filipe: Primão!! Escrever é organizar a casa e colocar as coisas para fora. É exatamente isso. Fui escrevendo como uma ânsia de me expressar em um ambiente onde nada fazia sentido pra mim.

Ju: Preciso falar de quão especial você é? Acho que esta pergunta já diz. Você me acompanhou nessa jornada do início ao fim. Desde quando eu nem sabia se vinha, até o final. :)

Gustavo: Você não me visitou em Boston, perdeu!

Luis Carvalho said...

Fala Antonio!

Gostei bastante do seu texto. Espero que vc continue sendo genuino, principalmente consigo mesmo! Sempre gostei de colaborar com vc, de discutir ideais, por causa da sua genuidade.

"Eu quero que as decepções do dia a dia não retirem o sonho dos meus ideais, apenas me ensinem a ser mais seletivo ou rigoroso quando necessário. Eu quero meus ideias coerentes com a realidade. [...] Eu quero que as exigências da minha profissão e o desafio do mundo não tire do meu coração o meu lado mais humano." Esse e' o grande desafio, mas nao tenho duvida de que vc consegue! Fico feliz de ver que as duvidas estao se dissipando e vc tem mais certeza das escolhas.

Abracos e boa sorte,
Luis

antluiz said...

Oi Luís!

Que legal ler sua mensagem! Foi uma grande honra ter trabalhado com você.

Eu ficofeliz com a oportunidade de colaborar e aprender com você.

Eu não sei o meu caminho ainda, se eu continuar no ambiente científico, acho que a gente pode desenvolver bons projetos.

Caso contrário, eu te visito para saber como vão as coisas. Provavelmente eu direi que sinto falta de fazer pesquisa e estudar biologia + matemática. Ou se tudo desse certo eu direi que foi um alívio sair da área acadêmica e que gosto muito mais da vida fora dela.

Esse caminho não tá trilhado ainda...

abraço

carollrtp said...

Ah, Tonhão amado =)

Lembro de alguns questionamentos, sabe? Lembro de quando vc estava pra ir (2008, né) e que conversávamos um pouco sobre isso. Lembro de alguns perrengues, da vitória da defesa e dos super artigos, das mudanças... lembro um pouco de tudo, haha
Acho engraçado tudo isso, porque lembro das nossas conversas e hoje me vejo com os mesmos questionamentos que você. Ler esse texto me acalma e me inquieta, porque parece que essas mil perguntas nunca acabam... mas sabe? Acho que essa angústia é um privilégio. Ela significa sair da zona de conforto, se colocar no próprio limite, se desafiar diariamente a não fazer o óbvio ou o medíocre. É fazer escolhas erradas, também, mas ah! Será que as "escolhas corretas" seriam feitas se não tivéssemos dado umas cabeçadas antes? =)

Eu fico muito feliz em saber que você sai dessa muito melhor do que entrou. Você é um vencedor e independente do caminho que escolher tenho certeza de que o resultado será brilhante.

E quando vier ao Brasil, tomaremos algumas porque é a minha vez de alugar teus ouvidos =D

Saudades!

Unknown said...

Já li e tentei postar aqui 2 vezes porém sempre deu problema. E o pior é que eu não lembro de salvar o que escrevi. Agora vai!
Primeiramente, saiba que vc plantou uma sementinha Tonhão no coração de cada amigo seu, inclusive dos conhecidos e até dos transeuntes.
Meus parabéns pela força e perseverança nos momentos difíceis e árduos. Que vc soube não perpetuar o desespero e a tristeza que foi te assombrar.
Meus parabéns tb pela fraqueza nos momentos de alegria e felicidade que vc deixou se levar e aproveitou os momentos únicos e singulares.
Não se preocupe quanto ao caminho a ser tomado, todos os caminhos levam à felicidade. Pode até ser em mundos paralelos, mas cada um reserva sua felicidade. Quem sabe vc não descobre um jeito de juntar alguns desses mundos paralelos.
O importante é que vc sempre seja leve, alegre, tranquilo, sincero, pois desta forma a felicidade sempre será sua companheira e iluminará seu caminho.

antluiz said...

Bubu, Carol e todos que escreveram e eu já respondi.

Vocês não tem ideia de quão legal é receber e ler o comentário de vocês. Cai uma lágrima cheio de saudades e de lembrar das pessoas queridas que fazem parte da minha vida.

Vamos caminhando, porque a ampulheta tá passando. E torço por oportunidades para nos encontrarmos em breve.

abraço/beijos/cafuné.

Do seu, do nosso

Tonhão favorito!