Friday, February 10, 2012

O boteco no coração...

Decidi reativar o blog. Vou deixar postado um texto que escrevi antes de eu oficialmente decidir se ia ou não fazer doutorado (início de 2008).

"Um dia vou descrever quem sou eu. Ainda estou me descobrindo, mas sinto que tenho o boteco no coração. O boteco é o melhor lugar pra expressarmos nossas filosofias, de maneira espontânea. No dia seguinte, esquecemos as besteiras que foram ditas e lembramos somente a parte mais marcante.

Amo também a biologia. Pra mim, a biologia e o boteco são muito ligados.
Ambos me trazem conhecimento sobre a vida. E nada melhor que viver pra aprender sobre a vida.

Sinto dentro de mim um coração político também. Por diversas vezes penso como eu definiria um mundo viável, mais justo e blá blá blá. Por diversas vezes tenho vontade de escrever sobre isso. Ainda vou.

Como ser político + estudante (possivelmente eterno) de biologia, tenho vontade de juntar os dois. Acho muito massa a maneira que a biologia me faz perceber o mundo. Ela muda a filosofia de encarar as coisas. E muda a visão do mundo. Tenho vontade de escrever sobre essas mudanças. Uma visão muito legal que a ciência criou em mim é a seguinte:
-Não é o experimento que tem que se adequar a teoria, e sim a teoria que tem que se adequar a realidade.

Esse visão ocorre naturalmente quando eu explico intuitivamente um fato, na minha cabeça a explicação faz todo sentido, impossível ter erro, mas quando eu verifico o fato na natureza, o resultado é completamente diferente.
Tenho vontade de escrever sobre isso, e tenho exemplos claros na minha cabeça.

Aplicando pro lado político, penso muito nas pessoas que assumem o que tá escrito num livro como verdade. Acaba que isso nos limita. Um livro deve servir de inspiração, mas não como verdade absoluta (a matemática me impressiona nesse caso, ela tem verdades absolutas). E não é só a sociedade que está errada, mas também as teorias.

Mas enfim, um dia eu escrevo quem sou eu. Um dia eu descubro. E ficarei impressionado em reler "quem sou eu" a cada momento depois, porque não serei o mesmo.
"
(escrito no primeiro meado de 2008)

Esse texto descreve um pouco vários pontos que tenho curiosidade. Eu poderia modificar e melhorar o que está escrito, mas prefiro deixar do jeito original, com a cabeça que eu tinha há 4 anos. As próximas atualizações serão sobre ideias mais recentes.

Tenho pelo menos uns 15 temas que tenho muita vontade de escrever, mas falta tempo para desenvolver. Vou escrever dentro da flexibilidade.
Se eu conseguisse escrever um texto por mês, já me sentiria super satisfeito, mas com certeza não quero demorar dois anos para voltar a escrever.

Minha vontade é desenvolver algumas ideias que ocorrem em paralelo com a vida de pesquisador. O dia a dia da pesquisa foca em perguntas muito específica e que demora anos para ser concluída. Acho super interessante, mas incompleto. Sinto falta da filosofia, arte e reflexão que vai além da pesquisa (e claro, sinto falta do esportes).
Minha motivação é escrever sobre temas do cotidiano com um ponto de vista diferente do que ouvimos no dia a dia.

Sunday, February 5, 2012

Por que fazer doutorado? (O que fazer aos 20 e poucos anos)

Sempre pensei em escrever um pouco sobre a vida de um doutorando e o porquê de fazer doutorado, mas sempre tive preguiça. Começo a escrever e paro na metade. Recentemente rolou uma pergunta: porque você quis ser cientista? Como tem muito, muito, muito tempo que não atualizo esse blog. Resolvi aproveitar essa oportunidade pra escrever minha experiência por aqui.


A essência de se tornar um pesquisador está na curiosidade. É estar sempre pensando como as coisas funcionam. 
Mas isso não é exclusivo de um pesquisador. Diria que é do ser humano.
Gonzaguinha já cantava `o que é, o que é?`, se perguntando sobre o que é a vida. Só sabendo que `é bonita, é bonita e é bonita!`.
Eu também sempre quis entender como a vida funciona, mas com uma abordagem mais quantitativa.
Por isso acabei cursando biologia com um pouco de matemática.


No mestrado estudei o que leva uma sequencia de aminoácidos se dobrar em uma estrutura 3d. Processo essencial para a função das proteínas. É uma área interessante. Uma proteína mal dobrada pode até causar doenças (por exemplo, a doença da vaca louca, mal de Alzheimer, mal de Parkinson). Mas ainda não me sentia completamente satisfeito.
Diria que 90% das pessoas que terminam um mestrado saem confusos sobre o que quer da vida. Os outros 10% simplesmente sabem que não querem mais saber de estudar...
Também diria que 80% das estatísticas apresentadas são feito na hora, inclusive essa. Mas enfim, isso não importa agora.
O que importa é que para mim não foi diferente, terminei o mestrado e não sabia o que eu queria da vida. No sentido profissional, fazer pesquisa não me parecia tão divertido. No pessoal, continuava fazendo o que sempre gostei de fazer, mas queria explorar algo novo, mais aventura.


O fato é que é difícil saber aos 24 anos o que a gente quer da vida. E isso não é exclusivo para aqueles de área científica.
Se eu ficasse em Brasília, arranjasse um emprego público, ia ser um bom caminho. Mas fazer pesquisa podia ser excelente!
... ou não.
 Por exemplo, sabia que não vale a pena gastar 5 anos estudando num doutorado e ficar insatisfeito no final. Mas também sabia que não queria, aos 24 anos de idade, engessar minha vida em um emprego que eu ia trabalhar já pensando em me aposentar aos 60.
Sabia também que não há outra maneira de descobrir se queria ou não fazer pesquisa sem me arriscar num doutorado.

A vida segue e a gente não pode ficar parado. Na dúvida, resolvi arriscar um doutorado fora, em uma área nova, que ainda conseguisse juntar a minha curiosidade por biologia e matemática: Bioinformática. O que é bioinformática? De maneira, simples, eu diria que a gente estuda a vida a partir do genoma. Não existe melhor maneira de estudar a evolução das espécies do que comparando a conservação de sequências no genoma. Mas bioinformática não se restringe a evolução.
Meu foco de estudo, por exemplo, é a rede de regulação dos genes de M. tuberculosis.


O que posso dizer é que o doutorado vai além de fazer pesquisa (e claro, a vida muito além do doutorado).
É uma oportunidade de explorar o mundo, conhecer pessoas novas, várias culturas. É um momento de sair de onde moramos e conhecer a nós mesmo. É fazer algo que te desafie de verdade, e você nem sabe se vai conseguir ou não. Tudo um um pouco confuso, meio nebuloso. Mas uma coisa parecia certa. Eu finalmente ia aprender a assistir filmes em inglês sem legenda!

E para concluir, nada melhor que mais algumas palavras do grande Gonzaguinha: "a beleza de ser um eterno aprendiz". Não sinto nada menos do que ser um eterno aprendiz!